Um discurso sobre si: Encontro entre a Subjetividade e o Processo de Nomeação em Neusa Santos Souza
Autor: Wallyson Reis
Resumo
Este artigo explora a intersecção entre a obra de Neusa Santos Souza sobre a construção do discurso sobre si mesmo e a proposta de Felwine Sarr em Curar-se Nomear-se. Em vez de focar na doença, o objetivo é aprofundar a compreensão de como a construção do discurso pessoal pode auxiliar no tratamento de pacientes ansiosos ou em depressão. O artigo investiga como a criação de um discurso próprio pode ser um caminho para a ressignificação da experiência, alinhando as ideias de Souza e Sarr com os conceitos de Freud e Winnicott. A intenção é propor um cruzamento conceitual que ofereça novas perspectivas terapêuticas, valorizando a subjetividade e a expressão pessoal no processo analítico.
Introdução
A construção de um discurso sobre si mesmo é um aspecto central da psicologia e da psicanálise, especialmente quando se trata de entender e ressignificar a própria identidade. Neusa Santos Souza, em suas reflexões sobre a subjetividade negra, enfatiza a importância de criar um discurso pessoal que respeite e valorize a própria identidade e cultura. Em paralelo, Felwine Sarr, em Curar-se Nomear-se, propõe que a nomeação é um processo crucial para o autoconhecimento e a transformação pessoal. Este artigo busca unir essas duas abordagens para oferecer um novo olhar sobre o tratamento de pacientes ansiosos e deprimidos, focando não na doença em si, mas na potência da criação de um discurso pessoal e da nomeação como ferramentas de cura.
O Discurso Pessoal e a Subjetividade: Uma Jornada de Autoconhecimento
Neusa Santos Souza defende que o reconhecimento e a construção do próprio discurso são fundamentais para a construção de uma identidade sólida e autêntica. Em sua obra, ela destaca que "a subjetividade negra deve ser afirmada e reconhecida dentro dos contextos de poder e identidade" (Souza, 2006, p. 112). Para pacientes ansiosos ou deprimidos, criar um discurso pessoal pode ser uma forma de ressignificar suas experiências e encontrar um caminho para a cura. Este processo de nomeação e reconhecimento é uma forma de afirmar a própria identidade e de se situar em um contexto mais amplo, promovendo um senso de pertencimento e de autovalorização.
Felwine Sarr complementa essa visão com sua proposta de que a nomeação é uma prática de autocura. Em Curar-se Nomear-se, ele argumenta que "nomear é um ato de poder e afirmação que permite ao indivíduo encontrar sua própria voz e identidade" (Sarr, 2019, p. 87). Ao integrar essas ideias, podemos ver como a criação de um discurso pessoal pode atuar como um instrumento poderoso no processo terapêutico. Ao invés de se concentrar na patologia, o foco é na capacidade do indivíduo de reescrever sua própria narrativa e encontrar novos significados para sua vida.
A Terapia como Espaço de Criação e Transformação
No contexto terapêutico, a abordagem proposta sugere que o setting analítico deve ser um espaço onde o paciente é incentivado a explorar e criar seu próprio discurso. Em vez de se limitar a uma interpretação dos sintomas, o terapeuta pode ajudar o paciente a construir uma narrativa pessoal que ressoe com sua identidade e experiências. Isso pode ser visto como uma extensão das ideias de Freud sobre o papel do inconsciente e a importância da autoexpressão, onde o processo analítico é um espaço para a exploração e a reinvenção da própria história.
Winnicott, com sua ênfase na importância do "espaço transicional" e na criatividade, oferece uma base para entender como a criação de um discurso pessoal pode ser um caminho para a cura. Ele sugere que o ambiente terapêutico deve apoiar a expressão criativa e a exploração pessoal, proporcionando um espaço onde o paciente possa experimentar novas formas de ser e de se expressar.
Direto ao Paciente: Construindo Seu Discurso Pessoal
Para você, que está enfrentando ansiedades e desafios emocionais, o convite é para que veja a terapia como um espaço de criação e descoberta. Ao construir e explorar seu próprio discurso pessoal, você está se dando a oportunidade de se conhecer melhor e de reescrever sua própria história. A terapia pode ser um lugar onde você encontra a sua voz e aprende a se nomear de uma maneira que faça sentido para você, contribuindo para a sua transformação e crescimento pessoal. Este processo é mais do que uma simples interpretação dos sintomas; é uma jornada para encontrar novos significados e possibilidades para sua vida.
Conclusão
Integrar as propostas de Neusa Santos Souza e Felwine Sarr oferece uma perspectiva enriquecedora para a prática terapêutica, destacando a importância da construção do discurso pessoal e da nomeação no processo de cura. Ao focar na criação de uma narrativa pessoal, podemos oferecer uma abordagem mais inclusiva e empoderadora para o tratamento de ansiedades e depressões, valorizando a subjetividade e a expressão individual no processo terapêutico.
Bibliografia
FREUD, Sigmund. A Interpretação dos Sonhos. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2011.
SARR, Felwine. Curar-se Nomear-se: A Busca pela Identidade. São Paulo: Editora Perspectiva, 2019.
SOUSA, Neusa Santos. O Lugar da Subjetividade Negra: Questões de Identidade e Cultura. São Paulo: Editora Coletânea, 2006.
WINNICOTT, Donald. O Brincar e a Realidade. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2005.