"Reescrevendo o Futuro: Potencialidade e Inclusão na Saúde Mental de Adolescentes em Vulnerabilidade"

31-08-2024

Autor: Wallyson Reis

Introdução

A marginalização e a exclusão de adolescentes em situação de vulnerabilidade são fenômenos complexos que afetam profundamente seu desenvolvimento e saúde mental. A arquitetura dos espaços urbanos e as dinâmicas sociais frequentemente contribuem para essa marginalização, limitando as oportunidades de participação ativa e expressão desses jovens. Este artigo propõe uma análise crítica dessas questões, utilizando as perspectivas de Neusa Santos Souza, Michel Foucault, Paulo Freire, Augusto Boal, Gilles Deleuze e Félix Guattari para explorar a potencialidade desses adolescentes e a necessidade de reestruturação dos espaços sociais e políticos.

O Potencial dos Jovens em Vulnerabilidade: Visão de Neusa Santos Souza e Paulo Freire

Neusa Santos Souza defende a criação de um discurso sobre si mesmo como uma forma essencial de resistência e autoafirmação. Segundo Souza, "o reconhecimento da subjetividade é fundamental para a construção de um espaço terapêutico inclusivo, onde a identidade e a cultura do paciente são respeitadas e valorizadas" (Souza, 2006, p. 112). Para os adolescentes em vulnerabilidade, esse conceito é crucial, pois oferece uma base para a construção de uma identidade forte e para a resistência à marginalização.

Paulo Freire, por sua vez, destaca a importância da educação como um meio de transformação social. Ele argumenta que "a educação é um ato político e deve ser uma prática de liberdade" (Freire, 2001, p. 45). Essa visão é particularmente relevante para os jovens em situação de vulnerabilidade, pois uma educação que valorize suas experiências e subjetividades pode servir como um meio de empoderamento e participação ativa na sociedade.

Dinâmicas de Poder e Biopolítica: Análise de Foucault

Michel Foucault, em suas reflexões sobre poder e biopolítica, revela como as práticas institucionais e políticas públicas muitas vezes perpetuam a marginalização. Ele descreve o poder como uma rede de relações que "não apenas reprime, mas também produz realidade, cria domínios de objetos e rituais de verdade" (Foucault, 1975, p. 194). No contexto dos adolescentes em vulnerabilidade, essa análise crítica é essencial para entender como as estruturas sociais e políticas podem reforçar a exclusão e limitar as oportunidades desses jovens.

Teatro do Oprimido e Expressão Artística: Perspectiva de Augusto Boal

Augusto Boal, com seu Teatro do Oprimido, oferece uma abordagem prática para enfrentar a exclusão e promover a expressão dos oprimidos. Boal afirma que "o teatro pode ser uma forma de transformação social ao permitir que as pessoas se expressem e atuem sobre suas próprias realidades" (Boal, 2000, p. 78). Para os adolescentes em vulnerabilidade, o Teatro do Oprimido oferece uma ferramenta poderosa para a expressão criativa e a participação ativa na transformação de suas comunidades.

Rizoma e Subjetividade: Contribuições de Deleuze e Guattari

Gilles Deleuze e Félix Guattari, com seu conceito de rizoma, oferecem uma visão alternativa para entender a complexidade das redes sociais e culturais. Eles argumentam que "o rizoma é uma forma de conhecimento que se espalha de maneira não linear, conectando diversos pontos de forma dinâmica e criativa" (Deleuze & Guattari, 1980, p. 20). Essa perspectiva é útil para compreender como os adolescentes em vulnerabilidade podem criar novas formas de subjetividade e resistência a partir de suas próprias experiências e contextos.

Reestruturação dos Espaços Sociais: Crítica e Propostas

A reestruturação dos espaços sociais e urbanos é essencial para permitir que os adolescentes em vulnerabilidade possam se afirmar e contribuir ativamente para a transformação de seu ambiente. A análise crítica das políticas públicas e das práticas sociais revela a necessidade de criar espaços que reconheçam e valorizem as potencialidades desses jovens, em vez de limitá-los a um papel de meros receptores de políticas.

Como sugere Foucault, "o poder no contexto analítico deve ser não repressivo, mas produtivo, capaz de abrir novos espaços de subjetividade" (Foucault, 1975, p. 210). A criação de espaços participativos e a implementação de práticas educativas e culturais que considerem as necessidades e potencialidades dos jovens são passos cruciais para promover uma transformação social mais ampla.

Conclusão

A integração dessas perspectivas oferece uma visão abrangente e crítica sobre a saúde mental e a potencialidade dos adolescentes em situação de vulnerabilidade. A criação de espaços inclusivos e participativos, que valorizem a subjetividade desses jovens e promovam a sua participação ativa, é essencial para superar a marginalização e promover uma transformação social significativa.

A reestruturação dos espaços sociais e urbanos, junto com a crítica às políticas públicas que perpetuam a exclusão, são fundamentais para permitir que os adolescentes possam expressar suas potencialidades e contribuir para a construção de um futuro mais justo e equitativo. É imperativo que se reconheça e se valorize o potencial desses jovens a partir de seu próprio lugar, promovendo uma inclusão verdadeira e transformadora.

Bibliografia

BOAL, Augusto. Teatro do Oprimido e Outras Poéticas Políticas. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2000.

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil Platôs: Capitalismo e Esquizofrenia. São Paulo: Editora 34, 1980.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 2001.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão. Rio de Janeiro: Editora Graal, 1975.

SOUZA, Neusa Santos. O Lugar da Subjetividade Negra: Questões de Identidade e Cultura. São Paulo: Editora Coletânea, 2006.

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